Marques, Luiz. Capitalismo e Colapso Ambiental. 3ª ed. revista. Campinas/SP: editora da Unicamp, 2018. 735p.
Quando o perigo vem, o animal foge. Mas quando aquele o surpreende, o bicho se paralisa na esperança de que o mal suma. Esse é o autoengano. Há também a denegação: saber que as coisas existem mas pensar que não são tão ruins assim.
Esse ensaio do professor Luiz Marques pode ser lido como um antídoto contra essas duas atitudes. Trata-se de aposta ousada: afinal é vasta e crescente a literatura sobre os problemas ambientais, particularmente sobre o aquecimento global. E seu autor não é o climatologista ou biólogo que se poderia esperar, mas um historiador de arte renascentista italiana.
Com tudo isso Luiz Marques explorou competentemente o assunto. Realizou pesquisa abrangente em assunto tão amplo e seu livro apresenta atração adicional para o leitor de 2019, que é a de ter sido recentemente atualizado. Livros sobre a crise ecológica caem rapidamente na obsolescência.
A primeira parte traça um panorama enciclopédico do estado do ambiente hoje e se denomina “Convergência das crises ambientais”, pois se trata exatamente disso. O problema não é só a emissão de gases de efeito-estufa na atmosfera, causando o chamado aquecimento global. A diminuição das florestas, o declínio dos recursos hídricos, o depósito de lixo nos oceanos, o colapso das biodiversidades aquática e terrestre, tudo compõe um mosaico que aponta para um Antropoceno e uma hipobiosfera, ou seja, um planeta moldado pela presença humana e com menor riqueza biológica.
Surpreende a recorrência de problemas que normalmente se supõem superados ou ao menos equacionados. O recente aumento do uso do carvão como combustível, quando se sabe que é um dos principais causadores da mudança climática. Também a revisão das previsões anteriormente otimistas quanto ao decréscimo da taxa de aumento demográfico, que faz com que o momento do zero crescimento seja empurrado cada vez mais para o futuro. E o aumento da taxa de destruição da floresta amazônica, já perceptível quando o livro foi escrito.
A segunda parte procura dar um sentido e uma saída a toda essa miríade de problemas convergentes. Para o autor, a crise atual parte de três ilusões concêntricas: primeiro, a ilusão de um capitalismo sustentável – qualquer tipo de crescimento não é mais possível; segundo, a noção de que quanto mais excedente, mais segurança, compreensível em uma espécie que passou privações tanto tempo, mas que se revelou falsa; e finalmente a ilusão antropocêntrica, de caráter filosófico, que crê ser o Humano o pináculo dos seres, com todos os outros inferiores a ele, e podendo se servir deles de acordo com as conveniências humanas.
Resta a saída. O autor dá apenas pistas. A lógica de acumulação não pode mais ser mantida – não se quisermos preservar o planeta o mais habitável possível. E não faz diferença se a lógica acumulativa se encontra em empresas privadas ou em economia socialista. Para tanto é necessária uma redistribuição de poder. Caminhos difíceis, e talvez inevitáveis.