Hanna Querida Hanna

Berlim 1979 e serei Oberinspektor da Kriminalpolizei, e como detetive da Polícia Criminal alemã circularei por um mundo sub de punks, rufiões, tatuadas, jogadores, viciados, sempre com minha cara cínica e terno de tweed – afinal meu mundo me fez assim, se me perdoarem o melodrama. Tu serás uma loura de cabelos aos ombros (uma alemã, afinal) e saia aos tornozelos, e mesmo com ela parecerás nua (não poderias mesmo estar – faz onze graus).

Nós nos encontraremos na esquina da Keithstrasse com a Wichmannstrasse, a dez passos da Delegacia, duas da matina em Berlim, e não nos encontraremos por acaso, pois nada nessa cidade acontece por acaso, penso eu como Humphrey Bogart cópia xerox.

Perguntarei teu nome e me dirás Hanna e perguntarei o teu nome verdadeiro e me dirás Hanna e tremerei – as que dizem a verdade são as piores. Tomaremos um Schnaps no bar argentino e me contarás uma história de que és uma moça sozinha perdida na cidade grande em busca de seu querido irmão e saberei que é tudo cascata, e te direi que estou farto dessa vida, de tanto cinismo e descaramento, e tudo o que quero é uma fazendola no campo, uma esposa querida e oito filhos, e tu saberás que é tudo cascata.

Vou te levar ao apartamento, em dúvida se é paixão à primeira vista ou uma assassina paga por algum gansgster que enfiei na cadeia. Tirarei a gravata e tu a blusa rosa e as tranças louras pudicamente cobrirão os seios. E estenderei os braços e te direi Hanna, liebe, querida Hanna, ainda na dúvida.

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