De Éphraim-Georges Michel no Brasil restaram apenas: uma citação do poeta gaúcho Alceu Wamosy no Frankenstein Metamoderno do e-autor Jayro Luna; as traduções feitas há cerca de cem anos pelo médico Álvaro Borges dos Reis, colecionadas no volume Musa Francesa, mencionado mas não disponibilizado no portal que a família fez para o doutor baiano; além de uma longínqua menção do crítico pernambucano Fausto Cunha na edição de 10 de setembro de 1967 do extinto Correio da Manhã, hoje acessível pelo trabalho de digitalização de acervos feito pela Biblioteca Nacional.
A França também esqueceu, ou quase – o poeta nascido em 1866 e que logo adotou o nome de Éphraim Mikhael. Dele se encontram um inevitável verbete biográfico na Wikipedia; uma estátua na cidade de Toulouse que um turista fotografou e pôs no portal Panoramio; e suas Obras (Oeuvres), uma coletânea de poemas, poemas em prosa e peças teatrais (algumas incompletas) publicada por seus amigos logo depois de sua morte aos 24 anos, disponíveis em pdf na Biblioteca Digital Gallica e recentemente republicadas pela pequena editora L´Âge d´Homme.
Éphraim Mikhael na melhor parte de sua obra viveu a cidade – não a sua cidade natal mas Paris, na qual morou desde aos quinze anos e essa mudança causou fundas marcas em sua obra. A capital francesa é a primeira cidade moderna – destruída e reconstruída para sê-lo em reformas décadas antes do poeta chegar. Passeia por ela como estranho – por não ter nascido nela, ou por na cidade moderna todos serem decididos a se manter estranhos.
Vê a quem não o vê: no poema Domingos Parisienses observa garotas (Elas passam, frágeis bonecas/ de olhos cruelmente serenos). Apesar disso a cidade o fascina, como em A Alma Pueril (Eu passo pelo campo, indiferente/ porque sempre em meu coração o impuro amor das cidades/ canta mais alto que a floresta e a torrente).
A cidade de Éphraim Mikhael rejeita (quase) tudo o que não seja o observador puro, em silêncio. Não se trata de uma cidade concreta – não há, ou quase, menções a lugares: ele não canta o Louvre, a Notre Dame ou as Tulherias. Sua cidade é brumosa, de indefinições, como Luzeiros, no qual, de uma posição no alto em meio à neblina ele compara a metrópole ao mar, com as torres das igrejas como destaque (Eu observo, ao longe, sobre as ondas/ deste oceano de mentiras/ fugir os imóveis faróis). Ou banalmente real: Da plataforma do tramway/eu vejo fugir as árvores negras (poema sem título).
Compará-lo com o nato e nativo da capital francesa Charles-Pierre Baudelaire é (quase) inevitável. Este viu a primeira cidade moderna em demolidora em todos os sentidos transição para a modernidade. O tolosino Éphraim Mikhael habita – e sofre e descreve e encanta – a cidade moderna instalada, solitária e real, com suas moças, bondes e brumas, tanto as de vapor d´água como as do espírito. E enquanto existirem tais cidades o poeta tolosino será docemente familiar.
Legal Paulo 🙂