Resenha: O Irlandês, de Martin Scorcese

“Ouvi dizer que você pinta casas” – essa frase a pronuncia um mafioso logo no começo. E o filme pode ser visto como uma trajetória para explicar essa expressão. As imagens e sons presentificam um mundo de mentira, luta pelo poder, ganância e até eventual decência.

Com O Irlandês (“The Irishman”, 2019) o diretor estadunidense Martin Scorcese retorna ao mundo mafioso. É um tema que já lhe rendeu um de seus trabalhos mais eficientes, Os Bons Companheiros (“Goodfellas”, 1990), com o qual O Irlandês tem óbvias semelhanças, a começar do ator principal, Robert de Niro.

A trinca de atores de frente forma um dos pontos fortes da obra. São maduros e interpretam homens também de meia-idade, com ajuda de tecnologia informática para desempenharem os papéis quando mais jovens. De Niro é Frank “O Irlandês” Sheeran, um veterano da Segunda Guerra que se torna caminhoneiro desonesto e é recrutado pela máfia de Russell Buffalino (Joe Pesci), o qual logo começa a empregá-lo em trabalhos sujos, inclusive assassinatos.

É Russell que indica Frank para ser guarda-costas de um amigo, Jimmy Hoffa (Al Pacino), o carismático e desonesto líder dos caminhoneiros americanos. A partir desse momento a trama se encaminha para um dos maiores mistérios da máfia estadunidense, o desaparecimento de Hoffa em 1975, sem que nunca seu corpo tenha sido encontrado. Personagens políticos como Robert Kennedy fazem aparições menores na trama.

O Irlandês tem narrativa rápida, às vezes excessivamente, o que procura amenizar com vinhetas informando o destino dos personagens, geralmente aprisionados. Trata-se de filme de Diretor de mão segura, que faz com que o filme não canse, apesar das mais de três horas de projeção. E o espectador sai com uma ideia do que na máfia significa a gíria “pintar casas”.

Publicado no Diário do Nordeste online de 16/11/2020

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