Paulo Avelino
George Guilherme Frederico nasceu na cidade de Stuttgart, Alemanha no dia 27 de agosto de 1770 e nestes dois séculos e meio acumulou tanto um quase incondicional fã-clube quanto detratores empedernidos. Nem todas as críticas, vale dizer, se caracterizam pela justiça. Uma delas, talvez a mais comum, é que a leitura de George Guilherme Frederico, aliás Hegel, é suficiente para provocar bocejos e vontade de atirar seus calhamaços filosóficos para a cesta de reciclagem.
A crítica tem sua razão de ser, forçoso é reconhecê-lo. Não são poucos os estudantes ou interessados em filosofia cujas intenções de leitura naufragaram em meio à travessia da Filosofia do Direito ou da Filosofia da História, para não falar da sua obra fundante a Fenomenologia do Espírito. Por falar nessa última, uma anedota diz que o filósofo estufou os manuscritos dela nos bolsos ao fugir das tropas de Napoleão na batalha de Jena, em 1806. Realmente a leitura de Hegel exige em muitos trechos uma atenção digna do deslinde de um enigma.
Não surpreende que, em outra anedota bem conhecida, o próprio Hegel confessou que Só um homem me entendeu – e nem ele me entendeu. Em outra, a celebrada glória da literatura alemã Goethe afirmou que admirava muito a Hegel – mas gostaria que ele se expressasse mais claramente.
Outra crítica que se faz a Hegel é que seria marxista – o que é quase cômico, considerando-se que quando Hegel morreu Marx ainda usava calças curtas. O fundador do socialismo científico utilizou o método hegeliano. Se utilizou bem ou mal é ponto para discussão.
Cumpre no entanto rememorar o legado do último filósofo que intentou um sistema que englobasse toda a filosofia e, por extensão, toda a ciência. Nesses tempos de conhecimento e política fragmentadas, talvez seja essa a grande herança do filósofo George Guilherme Frederico Hegel.
Artigo publicado no Diário do Nordeste de 4 de setembro de 2020