Paulo Avelino
Vima Borges Barreto faleceu ontem em São Paulo e esse falecimento lembra uma época passada, tanto da TV brasileira quanto dos movimentos sociais do país. Não era conhecida com esse seu nome civil e sim como Xênia Bier, e por esse exótico pseudônimo aqueles por volta dos cinquenta anos se devem recordar dela a comandar um dos quadros do TV Mulher, programa matutino exibido pela Rede Globo. Mas na verdade sua carreira começara bem antes.
Xênia Bier saiu do âmbito restritamente paulistano para algum alcance nacional com a transformação da TV Bandeirantes em rede, na segunda metade dos anos 1970. Comandava então o programa “Xênia e você”, composto basicamente por ela, com convidados fixos, alguns ilustres, como o psicólogo José Ângelo Gaiarsa, o filósofo Huberto Rohden, o professor de ioga De Rose e outros.
Em 1986 após algum tempo afastada retornou para a TV Bandeirantes, estreando exatamente no dia do lançamento do Plano Cruzado, o que fez com que sua produção encontrasse rapidamente o economista Miguel Colassuono para uma entrevista.
A principal atração do programa “Xênia e Você” era ela mesma. No quadro “Falei e disse” dava sua opinião sobre algum acontecimento atual, muitas vezes ligado à televisão. Ou sobre assuntos sempre em voga, como família e Deus. Certa mídia é ligada a simplificações excessivas. No seu obituário nos últimos dias alguns enfatizaram que era feminista. E o era, embora essa palavra tenha mudado de certa forma de significado. Também era contra o regime militar.
No entanto nunca incensava totalmente nenhuma posição. De fato, não é difícil imaginar que Xênia advertiria os movimentos reformadores de hoje dos perigos da hipocrisia e da reclamação excessiva. Clamava por uma posição equilibrada.
Esse equilíbrio faz necessárias vozes como ela também nos dias atuais, época de extremos.
[publicado no jornal Diário do Nordeste em 2020 08 26]