La Corrida desde el punto de vista de lo Toro, ou, [em uma versão tão fantasiosa quanto porém mais precisa, La Tauromaquia desde el punto de vista de lo Toro] procurou-se mas não se encontrou entre os papéis do Señor e caballero Domecq após seu inesperado falecimento há uma década.
Não se encontrou – mais que uma falha, uma previsibilidade. De fato esse cavalheiro, tornado celebridade [e só na Espanha possivelmente uma pessoa em seu ramo se tornaria celebridade] dedicou sua existência terrena a criar seres cujo destino inscrito desde que nasceram era serem espetados com ferros, assustados, enganados e ao final empalados, tudo isso em menos de quinze minutos e de maneira absolutamente pública – uma espécie de strip-tease do sangue por assim dizer. Era um fazendeiro especializado em criar touros para touradas.
Atribui-se a ele uma frase, que de tão banal se lê enigmática: As Touradas têm o fundamental mas lhe falta todo o resto. Rumores havia de que escrevia um livro, mais propriamente um folheto, olhando criticamente o trabalho de sua própria vida.
Curiosamente, o touro [protagonista de tal obra cuja existência se fofoca e se duvida] não toma uma posição inflexível contra a tauromaquia. De fato compara sua vida de touro-menino com os gados criados para o abatedouro, e a considera melhor [claro que o critério de comparação é bem baixo]. De fato as objeções do touro supostamente autor à atividade tauromáquica
se prendem muito mais aos custos econômicos, aí incluída a perda de prestígio nacional por campanhas de boicote.
O Touro demonstra mais bom senso que os humanos, concluíram melancolicamente os dois ou três que alegaram ler o original. Claro está que toda essa obra pode não passar de uma fantasia, não só do Snr. Domecq como de alguém a escrever sobre ele.