A História de Bianca, quase uma novela mexicana

Palácio Capello em Veneza

Paulo Avelino

Poderia ser novela mexicana.

Um roteirista mexicano pensaria em um nome de jovem, digamos Bianca. Agora um sobrenome, talvez Capello. Para sofisticar os Capello seriam riquíssimos, respeitados pela cidade. E como cereja do bolo sua filha Bianca seria belíssima. Teria 15 anos. Um casamento milionário era seu destino.

Porém o Coração (o tal roteirista de novela escreveria) se diverte em contrariar os desígnios da Sociedade. E a jovem Bianca apaixonou-se pelo doce, amoroso, e pobre Pietro. Que era um simples caixa de banco.

Colocada no dilema entre o Dinheiro e o Amor Bianca escutou a Voz de Seu Coração. Uma manhã as empregadas não a encontraram. Fugira com Pietro.

Furioso o pai dela deu parte à Polícia, que declarou os dois oficialmente Bandidos. Mas pombinhos já tinham chegado a outro país e ordens de prisão não poderiam mais alcançá-los. Lá Pietro conseguiu um novo emprego e começaram sua vidinha pobre e feliz.

Porém o humilde salário de Pietro não dava para empregados. Bianca a jovem criada em um palácio agora tinha de lavar a roupa, acender o fogão, esfregar o assoalho, arear as panelas e apagar as luzes para no dia seguinte começar tudo de novo. Para piorar, a mãe de Pietro era uma senhora inválida. Bianca ainda tinha de cuidar da sogra.

Cosimo era um velho astuto, um político que havia muito mandava na cidade. Mas ele também tinha seus problemas. E o principal era seu filho imprestável, Francesco. O garoto só queria saber de farras e para cúmulo era metido a galã. Para amansar o herdeiro o velho Cosimo o obrigou casar-se com Joana, que tanto tinha de rica quanto de beata – só queria saber de missas e frades.

Mesmo o pior dos roteiristas imaginaria o que aconteceu. O rico farrista agora casado Francesco viu a bela dondoca agora pobre Bianca. E começou a dar-lhe presentes, recados, essas coisas que os caras fazem.

Tornaram-se amantes, para fúria inútil do velho Cosimo e escândalo da cidade. Francesco conseguiu até um emprego melhor para Pietro, que voluntariamente meio cego não enxergava as escapadas da esposa, que todos viam menos ele.

O próximo passo seria a morte do velho dono da cidade, o que aconteceu, e logo depois Pietro convenientemente também morreu em uma briga de rua. Francesco era agora o mandachuva da cidade. Restava somente um impedimento para o amor dos dois pombinhos Francesco o Farrista e Bianca a Dondoca: Joana, a beata.

Que também impedimento não era. Francesco instalou Bianca em um palácio ao lado do seu e a paradeava por toda a cidade. E por quatro anos a esposa legal Joana aturou a humilhação de ser em público escanteada. Até que Joana morreu. Dois meses depois os pombinhos Francesco e Bianca estavam casados.

Isso aconteceu em Veneza, no século XVI com Bianca, da nobre família dos Capello, que terminou casada com Francesco de Medici, Grão-duque da Toscana. Se fosse novela mexicana seria criticada como dramalhão lacrimoso. Mas a vida não está sujeita a tais críticas.

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