2023 04 10 – A encarnação romana do Acaso

Evento: Calígula, de Camus

Um Imperador romano nunca bateu muito bem da cabeça. Certo, aquele imperial grupamento de gente nunca representeou exatamente o melhor que a humanidade tinha a oferecer, mas foi talvez por isso que o jovem Albert Camus escolheu entre eles o tema de sua peça, e escolheu o Imperador Calígula.

Diz-se jovem pois Camus escreveu a primeira versão desta peça com apenas 28 anos, em 1941, período infeliz da história do mundo, a sua França ocupada pelos nazis. Um absurdo. Que ele retratou nesta peça de quatro atos previsivelmente se passa na corte imperial de Roma.

Não se trata de uma biografia de Calígula, nem mesmo de uma descrição realista de alguns momentos da vida dele. De fato o caráter alegórico perpassa toda a peça. Calígula quer a lua, pois já tem tudo. Depois não quer nada. Obriga os cidadãos a deserdar os filhos para testar suas heranças para o Estado, e depois manda matar alguns para que a herança se efetive. Quanto à ordem dos assassinatos, não há nenhuma, mero capricho. Capricho que causou as conspirações de aristocratas temorosos de serem ao próximos a perder a cabeça. Aliás o Imperador só mostra alguma racionalidade quanto à receita tributária do Império, com a qual muito se preocupa, talvez porque sem ele não poderia fazer suas estripulias.

Calígula, tanto a peça como o personagem imperial dentro dela, são uma metáfora da própria vida, vista como absurdo. Uma peça a ler parta conhecer o jovem Camus e o pensamento e estilo que em pouco tempo o consagrariam.

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