Esse livro insensato sobre um assunto infantil polui infelizmente a robustez da cena cultural finlandesa! – tal crítica plena de altissonância figurou [curiosamente] quase com as mesmas palavras nos cadernos de literatura das edições impressasdo [quase impronunciável] Ilta-Sanomat e do [aparentemente mais próximo porque em inglês] Helsinki Times.
Virtanen Yourcenar tem certo savoir-faire. Pouco mais de trinta anos, arquetípico bom menino [daqueles que decoram poemas e não têm namorada] previsivelmente escolheu ser professor de pré ensino fundamental [um dos primeiros da Finlândia] e publicou [até agora] apenas obras sobre cachorrinhos perdidos e balões de ar.
Com IPhonen muistoja [Memórias de um Iphone] retoma um recurso caro a sua ídola Marguerite Yourcenar [daí o pseudônimo]: tomar um objeto cotidiano e seguir a trajetória das pessoas que o tocam.
O livro inicia-se no dia 29 de junho de 2007, quando o primeiro Iphone saiu da loja, e se encerra quando o mesmo entrou na esteira de desmonte a 8 de novembro de 2016 [coincidência ou não, o dia em que Trump foi eleito – e em que o professor veio para a aula com os olhos vermelhos]. Entre essas datas, dramas, infidelidades, mesquinhezas, generosidades que passam despercebidas, whatsapps de amor que nunca foram enviados, algumas doses de tédio e também de alegria.
A mensagem do professor Virtanen talvez tenha escapado aos dois vetustos jornais – focados na engenhoca, esqueceram da vida – o tema desse pequeno livro.
Um belo artigo para reflexão Paulo.