Vladimir P. [dizem, embora a extrema precisão do relato o torne duvidoso] perdido no tédio da noite de sábado 23/11/21 nos 1440 quartos do Kremlin quis assistir a um filme. Trêmulos assessores pegaram o primeiro DVD que lhes caiu nas mãos, “Kagemusha – a Sombra do Samurai”, do mestre Akira Kurosawa.
Sorvendo goles [talvez goles demais, pensou mas não disse o vice-ministro da Tranquilidade Social] da mais autêntica Vodka do Cáspio, Vladimir P. voltou seu olhar com o calor de um peixe e exigiu ver o diretor.
Ninguém teve coragem de dizer que o Sr. Kurosawa já se encontrava no paraíso xintoísta havia décadas, e acharam o único garçom japonês do `Palácio e disseram para concordar com tudo. [Sem dúvida se inspiraram no próprio filme, no qual um ladrão se passa por um poderoso general].
Vladimir P. [a Vodca na cabeça] abraçou o falso diretor do filme [um gesto raro e atemorizador] disse que era brilhante aquele truque de manter as tropas paradas enquanto os inimigos apavorados acabavam por ceder o que ele queria. O garçom-diretor tremia e sorria.
Vladimir P. ficou sério. O garçom ficou com medo. Vladimir P. perguntou se concordava que esse truque poderia valer contra um país vizinho. O garçom concordaria que a própria mãe era uma marciana púrpura de quinze narizes.
Na manhã seguinte Vladimir P. esquecera tudo, exceto a ideia. Pediu um mapa do seu vizinho, a Ucrânia. Chamou os generais. Disse que iriam ameaçar e conseguir mais terra, sem guerra, como no filme. Os generais disseram sim.