2023 03 07 – Viver ou o romantismo não é para todos

Evento: “Viver” (Living), filme de Oliver Hermanus (Reino Unido, 2022)

Um velho filme perdido na memória dos cinéfilos e no fechamento das locadoras de DVD voltou à vida em reinvenção. Em 1952 o jovem diretor Akira Kurosawa começava o filme “Ikiru” com uma chapa de raio X de um estômago – espoleta para uma trama de um funcionário público que descobre ter uma doença com pouco tempo de vida. Funcionário não muito diligente em uma estrutura idem – a população pede seus direitos e a máquina os nega só pela demora.

“Living” relê a não menos que magistral película japonesa transplantando-a para um horizonte geográfico diferente porém época semelhante – trata-se da história de um funcionário inglês do Departamento de Obras Públicas de Londres em 1953. O roteirista desta nova versão é o Prêmio Nobel de 2017 Kazuo Ishiguro. Entre os muitos méritos da narrativa de Ikiru está o papel nenhum reservado ao amor romântico na redenção do protagonista. Eu temia que fosse diferente na nova versão. Em enredos ocidentais o velho funcionário se redimiria através do amor de uma mulher, quer uma nova conhecida ou a volta de um antigo romance.

Felizmente o Diretor e o Roteirista escaparam desta solução tão fácil quanto desadaptada ao estilo do original. O amor romântico é tão difundido que o consideramos universal a todos as culturas. Não é. Talvez o fato de o Diretor da primeira versão Kurosawa e o Roteirista da segunda versão Ishiguro serem japoneses os ajude a ver outras saídas para os dilemas. O Amor não é para todos – ao menos, não para todas as culturas.

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