2023 03 14 – Nos tempos em que o cinema era adulto

Evento: Phone Call from a Stranger, filme

Bette Davis reviveu-se nos anos 80 com uma música Bette Davis` eyes (de Kim Carnes) – e Bette nem tinha olhos assim tão belos. Ela é alardeada como estrela de Phone Call from a Stranger, de 1952, que também se alardeia como filme Noir, e em ambos os casos o espectador fica a ver navios, ou olhos: a estrela não aparece senão nos minutos finais e a ligação de um estranho (talvez a uma mulher, talvez à personagem de Bette) com ameaças de crimes de máfias em preto e branco, implícita no título, se adia sempre até não se concretizar. Não se trata de um Noir puro, por assim dizer. Um misto, no máximo.

Difícil definir o noir e não está aqui quem vai tentá-lo. Esse gênero muito chegado ao tiros e aos dramas de gangues povoou os cinemas dos anos 40 e 50 – aqueles cinemas de rua onde o baleiro em frente vendia pipocas hiper oleosas a dois mil réis o saco. Nas telas apertadas e salas sem ar condicionado víamos durões detetives, morenaças estonteantes com pistolas na bolsa, bandidos de paletó e Buicks e Crevrolets que hoje fazem a alegria dos colecionadores, apenas para os Buicks e Crevrolets amassarem nas perseguições, os bandidos de paletó saírem algemados, as morenaças verem seus malvados esquemas se desfazerem como água e os detetives em fala final dizerem que o mundo é podre e o amor não presta, antes de pegarem outro caso.

Nesse mundo de filmes de super-heróis, o Noir é adulto. Curioso, e nós nem éramos tanto assim.

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