Evento: Final do Inverno
Cabral gostava da palavra precisa, pedra.
Drummond também gostava de pedras, inclusive aquelas no meio do caminho.
A Shakespeare agradavam os príncipes adolescentes e os casais suicidas.
Allen Ginzberg se amarrava nos versos em jazz e nos copos de gin.
Pessoa, apesar de só, apreciava pessoas,
e uma destas, Alberto Caeiro, gostava de ventos que não falavam de nada,
enquanto Ricardo Reis cantava musas de aspecto grego e olhar impassível.
Baudelaire se apaixonava por Paris e mulheres que não existem,
ao passo que Walt Whitman preferia as folhas de relva e as baladas à democracia.
Dante gostava de Beatriz.
Quanto a mim, inclino-me com os cotovelos na janela da rua António Pedro nesse canto do mundo enquanto o Inverno não se decide a ir embora.
Isso deve ter alguma importante lição,
só não consigo saber qual.