2023 03 17 – A Fantasma de Pequim

Evento: Todas as noites em que a fantasma resolve se manifestar

Um ser metade mulher metade luz aparece no casarão semiderrubado próximo da Cidade Proibida. Adolescentes a se fazer de valentes se juntam no portão e testemunham que isso ocorre. Testemunho talvez distorcido pela vontade de ter algo interessante a contar.

A rua Chaonei n. 81 em Pequim ganhou o título de endereço assombrado. Os fantasmas de Marx, Lênin e Mao reclamariam de não serem eles a assombrá-lo – reclamariam pois, como bons ateus, não existem. Quem tem a primazia seria uma burguesa, cujo marido igualmente burguês saiu para comprar cigarros [ou fósforos, de acordo com algumas versões] quando a cidade em desespero esperava que as tropas comunistas a tomassem em 1949. A mulher esperou por uns vinte anos enquanto os vizinhos vaiavam a vizinha maluca até que a tiraram de lá em um lençol, saindo da vida para a fama espectral que a segue até hoje.

Dizem que lhe precipitou o Fim um jornal contrabandeado de Taiwan onde o marido aparecia a acender cigarros com nota de cem dólares depois de enriquecer vendendo relíquias falsas do Exército Enterrado a estadunidenses bobos ao lado de uma amante espanhola com o inevitável nome de Adelita.

A vizinhança lamenta que a senhora não tenha aguentado mais alguns anos – pois o fujão levou um divórcio ruinoso da tal Adelita, que tomou toda sua fortuna e foi viver numa ilha do mar Egeu com um alemão musculoso de 1,92 chamado Hans.

Talvez haja alguma lição a ser tirada disso, mas nem eu nem a fantasma sabemos qual.

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