2023 03 20 – A essência da Comunicação

Evento: Um bairro de lata em Almaty, Cazaquistão

Dezessete linguistas de Harvard, Sorbonne, e da Universidade Tsinghua se dirigiram (em comitiva custeada pela Unesco) a esse distante recanto da Ásia para reconciliar os Nurzhan e Talgat. Não exatamente meninos. O primeiro tem 39 e o outro 45 anos, e nunca se deram bem.

A razão de tal desespero semiológico é que Nurzhan e Talgat nasceram em aldeia de velhos na qual se falava uma língua que só lá se fala. Dos sopapos na infância passaram às disputas por namoradas (em aldeias vizinhas) na adolescência e de lá às rivalidades por notas na escola e seguiu por aí. Enquanto isso velhos foram morrendo.

Quando a avó de Nurzhan morreu no mês passado a comunidade linguística percebeu que o número de falantes se tinha reduzido a dois. Nurzhan ainda teve três filhos mas esses se interessam apenas por chicletes e clipes de Lady Gaga. Talgat torrou seu salário em sessões de amor pago e nunca teve filhos.

Horrorizados os linguistas lembraram que se uma língua não é falada, ela não existe. Era preciso que aqueles dois se reconciliassem, ao menos provisoriamente enquanto se convencem outras pessoas a falar.

A melhor solução encontrada foi chamar os dois a um jogo do melhor time do Cazaquistão e depois a uma cervejada, tudo pago pelos cofres científicos internacionais. Um mais pessimista considerou que os dois poderiam apenas ficar a olhar o jogo e encher a cara, e talvez voltassem aos velhos sopapos. Mas a decisão da comitiva era de valia a pena tentar – mesmo a cruzar os dedos.

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