2023 03 21 – A redescoberta de um surrealista

Evento: Nova edição dos Contos de Gin-Tonic, de Mário-Henrique Leiria

Mário-Henrique Leiria teve uma vida interessante e com isso não se diga uma vida feliz. Pela razão mais avassaladora, a falta de saúde física. Muito ligado ao Brasil, viveu de 1961 a 1970 no país, e se este fosse mais cioso de sua herança cultural talvez o considerasse luso-brasileiro. Pouco publicou e apenas no final da relativamente curta vida. O jornal lisboeta Público escolheu sua principal obra para abrir sua coleção de livros fora de catálogo.

Os Contos do Gin-Tonic saíram em 1973, quando o autor tinha 50 anos, enviados por um amigo para o editor. Tiveram sucesso quase instantâneo. Essa coletânea de contos curtos e alguns poemas pende para o surrealismo, com o qual o autor tinha proximidades, inclusive com amigos no  movimento surrealista luso. Não um surrealismo delirante, por assim dizer, porém mais pé-no-chão, ao qual não faltam alusões e críticas à ditadura salazarista. Em todos os contos a síntese, a economia de palavras, porém com certa poesia, especialmente nos finais cortantes.

Em alguns contos os problemas do momento são explícitos, como a Guerra Colonial na África, presente em “Meu Sósia, o General” na qual homens são recrutados para se passarem por autoridades de certo regime ditatorial, para serem alvos de atentados no lugar deles. Ou sobre o dia a dia, como “Gulodice”, que se passa em uma pastelaria.

Morreu com 57 anos, com dores de uma doença óssea. Deixou pequeno porém significativo legado para o surrealismo em língua portuguesa.

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