Evento: Revista é sempre Revista, Teatro Politeama, Lisboa
Uma ida ao teatro em um fim de tarde de domingo em Lisboa pode constituir um evento arqueológico. A começar pelo nome do próprio teatro. Politeama vem do óbvio Poli (muitos) e theama (espetáculo, aquilo que se contempla). Fortaleza há um século tinha um Teatro com o mesmo nome.
Começa essa viagem por camadas de passado pelo nome do lugar e continua pelo tipo de espetáculo. O nome óbvio (Revista é sempre Revista) remete a uma apresentação popular no Brasil e mais especificamente do Rio de Janeiro dos anos 30 a 50, aproximadamente. O chamado teatro de revista era uma espécie de comédia com pitadas de drama, música, dança e pernas de coristas, no Brasil chamadas de vedetes. Também inclui crítica social e política – o espetáculo de hoje houve uma seção inteira sobre as políticas para mitigar a pobreza do governo do primeiro-ministro português Antônio Costa. No Brasil dos anos 50 diziam que o próprio Presidente Getúlio era fã da vedete Virgínia Lane.
Portugal não é um Brasil menorzinho. Na verdade Portugal não é um Brasil – é país com a mesma língua mas com um ambiente social bem diferente. O Teatro de Revista critica e provoca mas com uma ingenuidade tocante – uma espécie de versão adolescente da sátira. Essa ingenuidade não cabe no Brasil raivoso de hoje.
Cabe no entanto nesse Portugal pequeno e sofrido, porém sem tanto peso e raiva. E essa é a diferença entre os dois países – que faz com que Politeama seja um arcaísmo no Brasil e nome de casa de espetáculos em Portugal.