2023 03 27 – Proust no TikTok Em Busca do Aplicativo Perdido

Evento: Toda a Internet-esfera

Existe Filosofia no TikTok?? Ou talvez, existe ainda a possibilidade da Filosofia após o TikTok? As redes sociais se foram tiktokeando – o Instagram, antes um vetusto mostruário de fotos artísticas e paisagens estupendas, se viu invadido por dancinhas e discursos meio falados meio escritos que pretendem resolver alguns problemas crônicos da Humanidade em oito segundos. Idem o Facebook e o resto.

Falar mal do TikTok é fácil – de fato tudo é fácil no TikTok, são só alguns segundos e uma dancinha, after all. O primeiro (e óbvio) ponto é a rapidez – Proust levou vinte anos, sete volumes e umas mil duzentos e oitenta páginas (na tradução clássica brasileira iniciada por Mário Quintana) para concluir que “O Tempo somos nós!” Algum tiktoqueiro começado ontem poderia pular por cima das páginas, volumes e décadas e figurar logo a frase final, de preferência acompanhada de uma coreografia em que um pé fica para cima enquanto com o outro se dá dois passitos para o lado.

Os iluministas falavam em progresso. O Tiktok à maneira dos Céticos Gregos se empenha em demolir tal noção. Na era dos efeitos especiais a maioria dos vídeos força os limites do qualificativo “Ruim” – são pavorosos, gente a filmar sozinha se faz de homem e de mulher ou de jovem ou idoso sem a mínima noção de representação nem maquiagem. Claro, nem podem, estão sós.

O Aplicativo da Filosofia perdeu-se. Talvez Proust o encontrasse – isso se não perdesse muito tempo a espiar a última dancinha do TikTok.

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