Evento: Para Juca Chaves, o Menestrel, falecido a 25/03/2023
Uma única vez vi a Juca Chaves. Em 1979, no teatro do Shopping da Gávea. Ele fazia espetáculo badalado e caríssimo ao menos para meu bolso de estudante. Chamou-me atenção a simplicidade do show – ou seu baixo custo. Ele chegou de braço dado com a esposa e falou com alguém antes de entrar pelo camarim. Até hoje considero curioso o público ver o protagonista antes do espetáculo. Já no palco Juca apertou ele mesmo as teclas de um gravador, aqueles gravadores de rolo de fita, e disse “orquestra…” e seguiu o acompanhamento musical para ele cantar e tocar seu violão. Uma forma de economizar uma orquestra de verdade.
Juca Chaves coincidiu com o ocaso da democracia brasileira de 1946-1964 e o afundamento na ditadura depois. Ainda no tempo de JK estreou no sucesso com uma homenagem meio satírica ao político mineiro com a canção “Presidente Bossa Nova”, sua presença no célebre movimento musical. Lá por 1974 eu já ouvia os discos de piadas dele (havia discos de piadas na época, por incrível). Também ouvia as fofocas sobre ele, como a que ele fora preso por cantar “Esse é um país que vai pra frente”, um panegírico à ditadura, andando para trás. Nunca soube se era verdade – apenas lembro da professora de inglês nos mandar ficar quietos após nos contar essa.
Juca Chaves, humorista muito político, percorreu um resto de democracia, uma ditadura e um retomar da democracia. Que esta continue, para que possamos continuar a ter menestréis bem-humorados como ele.