2023 04 03 – A Vida, Arte e Velhos Cabarés

Evento: Um teatro no centro de Lisboa

Diz-se que A Vida imita a Arte em inversão do apenas um pouco mais banal A Arte imita a Vida. Seria mais correto dizer a Vida vampiriza a Arte – suga-lhe as ideias, corta-a em pedaços e procura fazer forma parecida, geralmente não tão bela.  

Em subida ao segundo andar de um teatro de bairro deparo com os corrimãos art-deco, o soalho liso e vermelho, os vidros do Bar, um pequeno bar talvez para shows de strip, tudo a puxar a cenário de mistério de Agatha Christie nos anos 30 e minha cabeça recorda de algo que nunca vi mas vi muito, na Arte. Penso: isso era um cabaré.

 São dos lugares mais comuns da literatura dos séculos XIX e XX – desde o Maxim´s de Paris celebrado em “A Viúva Alegre” ao Bataclan da Ilhéus de Jorge Amado, a passar pela casa de tolerância sem nome de Steinbeck em “East of Eden” até aquela da tua cidade. Sim, a tua cidade teve cabarés, embora não saibas o nome. Recomendo perguntar discretamente a senhores de mais idade. Depois sumiram – substituídos na literatura do século XXI pelos dramas de apartamento e conflitos de grupos sociais específicos.

Sumiram mas deixaram em páginas, discos e celuloide a miragem de locais esfumaçados com garrafas, mesas e clientela exclusivamente masculina e staff (excetuando os baristas e leões de chácara) sempre jovem e feminina.

Tudo isso me veio a ver um bar de um velho teatro em Lisboa. A Vida vampiriza e junta os pedaços da Arte – mas até Drácula e Frankenstein são ficções que teimamos em procurar no real, vá entender.

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