2023 04 07 – A História como dupla Farsa

Evento: Capitães de Abril, o filme (2000)

Seria a História uma grande Pataquada? A exatamente uma hora do filme “Capitães de Abril” o charmoso ator italiano Stefano Accorsi no papel do capitão Salgueiro Maia atravessa a praça do Comércio de Lisboa para falar com certo Brigadeiro.

Não é um piquenique. Salgueiro Maia comandava homens revoltados contra o regime. O Brigadeiro comandava outros tantos para manter o regime. O Capitão pede para negociar. O Brigadeiro recusa. Manda um de seus soldados em um tanque fuzilar o capitão. É o momento cruciante. O filme faz suspense na cena. O soldado larga a arma. Não matará ninguém. Os outros correm para o capitão. A revolta está ganha. Isso a 25 de abril de 1974. Épico.

Em filme. Na verdade o Brigadeiro deu ordem ao artilheiro de um tanque, um cabo, para atirar e matar o capitão e a revolta. Este homem, prestes a entrar para a História, quer pela porta do Martírio em caso de derrota, quer pela janela do Heroísmo na vitória, poderia ter bradado “Morte ao Fascismo!” ou “A Liberdade Triunfará”! Quantas belas estátuas e redações escolares isso não daria.

Em vez disso diante da ordem letal o tal cabo resmungou “Vou ver o que é possível fazer” e se trancou no tanque. E não abriu mais a portinha, por mais que implorassem. Os outros aderiram à revolta. Cômico.

Marx disse que a História não se repete, a não ser primeiro como drama, depois como farsa. Essas pequenas pataquadas fazem pensar se já não começa como farsa, tornando-se depois uma farsa dupla.

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