2023 04 08 – Recordações de Todo Lugar

Evento: A Escola do Paraíso, de José Rodrigues Miguéis

José Rodrigues Miguéis não é dos autores mais falados da história da literatura portuguesa. De fato nunca ouvira falar dele até que o Jornal Público incluiu seu romance mais vendido “A Escola do Paraíso” em um coletânea de livros fora de impressão, indicados por alfarrabistas (donos de sebos).

Pode-se dizer que esse desconhecimento se deve em parte à história do autor, que ao final da vida pouco tinha de português. Nascido em 1901, aos 34 anos de idade meteu-se em sarilhos (encrencas, no linguajar luso) com a polícia política salazarista, migrou para os Estados Unidos e de lá nunca mais retornou, exceto para pequenos períodos. Aos sessenta anos publicou esse volume, sucesso na época. Morreu em Nova Iorque em 1980.

Fala do crescimento de um menino na Lisboa dos anos 1900 a 1910, filho de migrante galego e de classe média – a classe média da época, sem os arroubos de consumo de hoje. A analogia com o “Em Busca do Tempo Perdido” de Proust é inevitável e não escapou aos críticos, mesmo na época. No romance de Migueis não acontece nada muito importante – inexistem os assassinatos de Dostoievski ou os adultérios de Flaubert. Ao mesmo tempo tudo é importante – as fofocas de vizinhança na Alfama (hoje viveiro de turistas e de apartamentos AirBnb) e o proverbial pão-durismo do avô.

Chama a atenção a semelhança das experiências de Miguéis, Proust e de tanta gente. Talvez sejamos mais parecidos do que pensamos. E essa Lisboa do autor na verdade seja Todo Lugar.

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