Evento: Hollywood, anos 1940 e depois
Ah, aqueles amáveis Durões, os Detetives do Filme Noir. O Rick Deckard do Blade Runner original, em relutante caçada a androides. Sam Spade de Relíquia Macabra a se recostar em sua cadeira no escritoriozinho reles, a receber clientes belíssimas. O tenente Leonard Diamond de Império do Crime em sua obsessão de trancafiar o maior gangster da cidade.
O escritor mexicano Carlos Fuentes comparou o detetive a um Dom Quixote da cidade, a fazer suas proezas para louvar uma Dulcineia geralmente loura e de olhos azuis que nunca merece tais esforços – na sua delicada bolsa de couro branco a doce jovem viúva guarda a mesma pistola com que matou o marido ou faz parte da quadrilha do chefão que agora quer eliminar, com auxílio do Durão que agora contrata por alguns dólares.
Não que o detetive não saiba disso. Entende muito bem que o Mundo é podre, os polícias são corruptos, os empresários são ladrões, o público é viciado em jogo e as mulheres não prestam. Mas nesse mundo porcalhão o detetive se esforça a manter sua dignidade.
O detetive se agarra a uma ética minimalista – a lei deve ser seguida, o criminoso deve ser punido, o amigo deve ser vingado. E nessa busca do Mínimo o Detetive afronta tiros e pancadas, e, pior ainda, o olhar da loura que vai apodrecer por dez anos na cadeia em que ele a atirou.
Os sonhos são de chumbo, como disse Sam Spade em frase que ninguém nunca entendeu direito.