Evento: O futuro Pequeno Príncipe
Ele chamou o lugar “a mais bela e mais triste paisagem do mundo”.
Ele: um jovem aristocrata francês apaixonado por aviões. O lugar: hoje se chama Tarfaya, fica ao sul do Marrocos e na época era conhecido como Cap Juby – uma aldeia espremida entre o Saara e o Atlântico, esbatida pelos ventos e por tribos berberes em eterna revolta. Foi nesse lugar que Antoine de Saint-Exupery trabalhou durante dois anos, ao final dos anos 1920, como chefe de posto de companhia de aviação.
Trabalho não exatamente salubre – grande parte dele consistia em tentar salvar os pilotos de aviões que entravam em pane e faziam descidas forçadas no deserto, algo nada incomum nos teco-tecos da época. Foi nesse lugar que ele viu as dunas do deserto, a tal mistura de belo e de triste.
É uma sensação semelhante ao que se tem no semiárido nordestino – a vegetação rala ou mais densa, cinza ou verde de acordo com as chuvas, os tufos de rocha a aflorar e às vezes a formar morros que parecem afrontar o escaldamento do sol – também há muita beleza no sertão nordestino. E tristeza, se se considerar o calor e os problemas que a própria irregularidade do regime de chuvas traz.
O deserto e o semiárido não são geograficamente os mesmos. Literariamente têm muito em comum – a pouca água, o calor, as dunas – e a beleza e a tristeza, como disse aquele aristocrata francês, que depois escreveria o Pequeno Príncipe e faria escala de avião em Fortaleza – o que de novo junta o deserto e o sertão.