2023 04 25 – Bom dia, 25 de Abril

Evento: Salgueiro Maia sem retórica

“Bom dia, Abril” – disse Salgueiro Maia naquela madrugada do dia 25. Mentira – Ele não disse nada disso. Fernando Salgueiro Maia era péssimo com palavras. Suas declarações na mais histórica das datas portuguesas modernas formam um verdadeiro carretel de banalidades. Desde o momento em que saiu no comando de uma pequena coluna de blindados na madrugada até o momento em que escolta o chefe do governo anterior para o exílio, procura-se frases com sabor de Churchill ou Júlio César, para colocar como legenda de estátuas ou para a garotada estudar para os testes da oitava série.

Do seu dia de pavor e glória constam apenas coisas como “Trouxe explosivos” quando lhe dizem que as portas do Ministério podem estar fechadas (Podia ter dito: “Portas fechadas não impedirão a Liberdade”). Ou “Se estão mesmo comigo, tragam aquela tralha para cá” – a se referir a soldados que aderiam – a tralha eram alguns tanques de guerra. Fora a frase de que eles iriam acabar com o Estado a que chegamos, facilmente substituível por “Para a Morte ou a Glória!”

A ingenuidade do mais célebre dos revoltosos lusos já foi bem comentada – fez a Revolução para que espertalhões que pouco ou nada fizeram fruíssem o seu melhor. Prefiro destacar o seu esmagador sentido de momento. Totalmente imerso no agora, parecia não ter planos. Compreensível em quem poderia levar um tiro a qualquer  momento. Por isso não deu Bom Dia a Abril – estava talvez a pensar se os caminhões tinham combustível.

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