Evento: Uma placa em um prédio
Fernando trabalhou em prédio na rua Pascoal de Melo e duvido que soubesse quem foi Pascoal de Melo. Dúvida retórica, devia saber, era um cara culto o velho Fernando. Pascoal de Melo foi jurista que compilou leis a mando de Dona Maria I, a célebre “Louca”, e a que se colocou o destino da quase totalidade dos nomes de rua – ser apenas nome de rua que todos decoram e dos quais ninguém sabe nada.
Difícil imaginar um Fernando Pessoa tagarela apesar das muitas Pessoas que conviviam dentro dele, desde o agnóstico Alberto Caeiro ao neoclássico Ricardo Reis. Fora dos cafés com os amigões Mário de Sá-Carneiro, Almada Negreiros e mais uma dúzia é muito mais visível a discreta porém midiática marca registrada do chapéu de feltro, o bigodinho e a discrição, observação e silêncio.
Nada disso consta da placa na Pascoal de Melo, entre um restaurante coreano e um supermercado especializado em orgânicos e produção ética. Pose-se imaginá-lo a frequentar a Cervejaria a três quarteirões de distância – esta ainda existe, e não creio que fosse infenso a cerveja, não quando tantos talentosos contemporâneos se afundavam no absinto. Provavelmente iria para casa no bonde – o Metro demoraria ainda umas boas cinco décadas para chegar para chegar à brava vizinhança dos Arroios – esta vizinhança.
A placa está lá, o Poeta viveu por cá, Lisboa não é a mesma – e duvido que Fernando cometesse essa frase tão banal.